Violência obstétrica na França
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Violência obstétrica na França: meu relato

by Suellen Kyl

Durante a gravidez na França, minha primeira gravidez eu passei por várias situações que posso classificar como estranhas, alguns comportamentos médicos que eu não esperava. Mas até então, violência obstétrica na França não era algo que eu imaginava que pudesse acontecer.

Eu não pensava em violência obstétrica na França até então

Em nenhum momento eu pensei que eu poderia sofrer o que sofri no meu parto e acho que esse é o caso da maioria das mulheres. A gente ouve falar, mas a gente nunca acha que vai acontecer com a gente. Acho que isso é uma das piores coisas, você ter consciência dos absurdos que as gestantes podem sofrer durante o parto e mesmo assim acabar sendo vítima. E por que?

Porque no momento do parto, a gente fica muito vulnerável e aí vem a importância de ter um acompanhante que tenha voz, que conheça, que possa interferir por você. Mas vamos lá, aos fatos.

Pré-parto na França

Meu filho ficou sentado, ele não virou mesmo com todos os exercícios, acupuntura, tentativa de manobra externa que é aquela manipulação que eles fazem na barriga pra tentar virar o bebê que aliás é horrível. Nesse momento eu tive duas opções: fazer os exames para ver se tinha passagem para ele nascer de parto normal, na maternidade que eu tive ele eles eram preparados para fazer esse tipo de parto ou optar por uma cesariana que seria agendada a partir da 39 semana.

Eu optei por tentar o parto normal, ele estava em uma posição favorável, existem diferentes formas de um bebê ficar sentado e a forma que ele estava favorável, eu fiz os exames para medir a bacia, eles checaram o peso do bebê e concluíram que tinha passagem para um parto normal.

Como é o pré-natal na França.

O dia do parto

Eu entrei em trabalho de parto naturalmente com 38 semanas. Minha bolsa estourou e quando eu cheguei na maternidade já estava com 5cm. Uma das primeiras coisas que já foram estranhas lá foi quando eu cheguei. Me colocaram na sala, me deram um potinho para fazer xixi e eu fiquei esperando a moça.

As minhas contrações estavam entre 8 e 11 minutos, então eu tinha aqueles momentos de dor que duravam 1 minuto e depois entre uma contração e outra eu não sentia nada, era como se nada estivesse acontecendo. A enfermeira entrou e perguntou porque eu tinha ido para a maternidade e eu disse que a bolsa tinha rompido. Ela pegou aquele teste que eles fazem para detectar se realmente tem perda de líquido amniótico. O teste foi positivo, claro e aí ela fez um toque e ficou espantada por eu já estar com 5cm e estar “calma”.

Assim funciona o parto na França.

A internação e o início das violências

Nisso eu fui para o quarto, veio uma enfermeira e falou bem assim: você vai querer a peridirual? Porque o anestesista vai descer para fazer no quarto ao lado e aí ele já vem e faz aqui também. Nisso era umas 4h da manhã, e pelo tom de voz dela ficou claro que “ou você toma agora ou vai esperar depois porque o anestesista não vai descer aqui só pra isso”.

Eu aceitei porque como já estava com 5cm e estava doendo bastante, pensei que fosse andar rápido. Hoje em dia eu vejo que essa não foi uma boa decisão porque acabou atrasando o trabalho de parto que estava avançando bem, mas isso não era algo que sabia antes.

Os toques desnecessários

Nesse hospital eles tem uma escola de parteiras também, então de hora em hora vinha alguém com um estudante fazer um toque. Eu sempre li sobre isso e sabia que era desnecessário esses exames de toque de hora em hora. Mas eu desconhecia os riscos de infecção desse tipo de intervenção. Só fui descobrir isso alguns dias depois do parto, mas isso é assunto para outra hora.

A roleta-russa de enfermeiras

Na primeira hora que eu estava lá tinha uma enfermeira bem legal, ela me indicava posições para ficar que ajudava o bebê a descer, era uma pessoa positiva, dizia que estava avançando bem e que em poucas horas ele estaria aqui. Trocou o turno e foi quando começou o pesadelo.

A nova enfermeira era mais velha, deveria ter mais de 40 anos. Ela veio, examinou e perguntou se a anestesia estava fazendo efeito. Eu disse que estava, mas estava pegando mais de um lado do meu corpo do que do outro. Ela disse que ia chamar o anestesista para dar mais uma dose então, porque iria administrar ocitocina. Eu disse que não queria e ela fez um discurso ameaçando que se eu não tomasse, eu iria partir para uma cesárea. Eu não tive como argumentar, percebi que pouco importava o que eu falasse, ela iria administrar a ocitocina.

A hora do parto

Quando foi a hora do parto, que eles decidiram que era hora de começar a empurrar, eu não sentia mais nada, a anestesia estava muito forte. Só sentia uma grande pressão lá embaixo. Eles prepararam a sala, chamaram a equipe médica que é necessária em um parto pélvico.

Algo que aliás é bem desconfortável, porque parecia que eles estavam lá na cafeteria. Ficaram lá um do lado do outro conversando sobre o final de semana, rindo, e eu lá tentando parir. Total falta de respeito.

Eu comecei a empurrar quando elas falavam que era pra empurrar, porque eu não sentia mais nada. Empurrei 2 vezes e na terceira vez a enfermeira tentou subir em cima de mim para fazer aquela famosa manobra de Kristeller que consiste em aplicar pressão no alto da barriga para empurrar o bebê. Esse tipo de manobra não é recomendada e é um tipo de violência. Quando eu vi eu empurrei ela, falei não e a ginecologista que estava lá falou pra ela parar.

Eu estava morrendo de sede, eles não deixam comer e nem beber na sala de parto mesmo sendo parto normal porque caso seja necessário uma cesária de emergência, a gestante está em jejum. Já era 11h da manhã, já tinha umas 9h que eu não bebia água, eu estava morta de sede e comecei a pedir desesperadamente por água.

Sabe a idéia magnífica que a enfermeira teve? Falou para o meu acompanhante borrifar o spray de água termal na minha boca. Gente, esse negócio chama água mas não é para ingerir, é para refrescar o corpo, aquilo tem um gosto horrível.

A violência obstétrica tão temida das mulheres, chegou

Eu devo ter empurrado mais umas duas vezes e eu vi a troca de olhares entre a enfermeira e a ginecologista. Meu sentimento foi que elas iriam fazer um episiotomia. Elas não falaram nada, só se olharam e eu tive aquela vontade de dizer não, mas como eu disse no começo, a gente fica muito vulnerável, perdida, tem tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo.

E sim, fizeram uma episiotomia sem o meu consentimento, ninguém me perguntou nada e ninguém me disse nada também depois do parto. Aliás eu vi ela costurando lá depois que ele tinha nascido, eu perguntei quantos pontos eram e ela disse que era alguns. Até então eu achava que era só uma laceração. Eu só fui descobrir que era uma episiotomia quando eu estava já no quarto, que o efeito da anestesia tinha passado e que começou a doer daquele lado. Perguntei para a enfermeira que tinha vindo passar no meu quarto e ela disse que era por causa da episiotomia. Quando eu ouvi eu só pensei “nossa, um dos meus piores pesadelos se tornou realidade”.

Poderia ter parado por aí. Mas teve mais…

Quando eu achei que já tinha visto de tudo, no dia seguinte a enfermeira pediátrica veio para o banho. Era umas 10h da manhã. Eu perguntei se poderia fazer o banho à tarde porque o papai chegaria depois do almoço. Era o primeiro banho do nosso primeiro bebê, eu perguntei super de boa e ela me respondeu bem assim: “tenho o segundo andar para fazer ainda, ou você faz agora ou espera até amanhã”.

Essa foi a mesma enfermeira que me trouxe mamadeiras quando eu disse que queria amamentar mas estava com dificuldades e me ameaçava de ficar mais tempo lá se ele não ganhasse peso suficiente. Um dia antes da minha alta (aqui na França você fica 3 dias na maternidade depois de um parto normal e 5 dias depois de uma cesariana) ela virou pra mim e me disse “se vc quiser ir embora amanhã, é bom caprichar na mamadeira essa noite”.

Quando o pediatra foi fazer a visita, ela tentou convencer o pediatra de que ele não deveria dar alta pro meu bebê porque ele não tinha ganhado peso suficiente, mas felizmente o pediatra não ouviu e deu alta.

Agora sim, em casa. Mas não por muito tempo

Bom, depois disso eu fui para casa, mas poucos dias depois tive que voltar na emergência umas 3 vezes até ser internada por conta de uma infecção no útero. E aí é claro que o inferno com as enfermeiras pediátricas não acabou, mas esse assunto vai ficar para outra dia.

Violência obstétrica na França: uma realidade

Se você chegou até aqui, eu queria dizer que o objetivo desse artigo é alertar e mostrar que infelizmente ninguém está livre de passar por esse tipo de situação, mesmo você achando que é uma pessoa informada. Claro que quanto mais informação você tiver, menos chances vai ter que algo assim aconteceça com você, mas como eu citei no começo, é essencial que o seu acompanhante também saiba de tudo isso para que ele possa identificar quando alguma coisa está saindo do normal. Assim ele pode interferir quando você não tiver forças, ele pode ser a sua segunda voz ali no momento do parto e não apenas alguém para segurar a sua mão.

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